É engraçado como as coisas são. A vida parece sem novidades, até que chega um dia em que tudo muda. Muda para melhor, muda para pior. No meu caso, mudou para muito melhor. Isso porque era uma segunda-feira, daquelas que não se quer acordar, num desejo imenso de dormir até o outro dia. Pois bem, levantei moído, tinha trabalhado até tarde e estava exausto. Tomei banho, coloquei um terno qualquer e corri para o ponto de ônibus. Ao chegar à empresa, eis que fui chamado para comparecer ao gabinete da presidência. Foi uma surpresa para mim, afinal, poucas foram as vezes que entrei naquela sala fria do último andar. Entrei. Estava nervoso. O que deveria ser?
- É... Eu te chamei aqui, Sílvio...
- É Roberto, senhor.
- Certo. Quero lhe apresentar a Sofia, nossa mais nova contratação da empresa. Ela deve estar chegando. Quero que dê toda atenção a ela.
Nesse momento, a porta se abre. O mundo parou e a sala se coloriu. Lá estava ela: “a mais nova contratação da empresa”. Parecia que vinha em câmera lenta, exatamente como eu via nos filmes de amor quando era criança. Cabelos morenos esvoaçantes, ao sabor do vento. Pele lisa, de uma brancura sem igual. Olhos verdes, que inspiram um mistério, que todo homem adoraria desvendar. Fiquei extasiado com tanta beleza.
- Bom dia, senhores. Disse com um sorriso faceiro.
É incrível, mas só por essa frase eu achei Sofia muito simpática, numa perigosa mistura de menina e mulher. O mais engraçado é que achei que já a conhecia de algum lugar. Fazia tempos que não me interessava por alguém. Poucas vezes o meu coração tinha batido assim, descompassado e acelerado. Sofia era, sem dúvida, uma mulher especial.
- Olá! Disse todo desajeitado, ainda me recuperando do momento.
- Oi, Roberto. Prazer
Dei um beijo em sua mão e depois olhei para o seu rosto. Foi então que percebi a boca de Sofia: linda e convidativa. Eu sabia que minha sorte tinha mudado a partir daquele momento. Estava feliz pela presença daquela mulher que, como num passe de mágica, parecia capaz de colocar um ponto final na minha vidinha monótona e sem graça.
Mais tarde, Sofia, agora na mesa ao lado da minha, pergunta:
- Estava pensando... Você não me é estranho.
- Sabe que também pensei a mesma coisa, Sofia? Disse com certa empolgação. Essa era a hora de me mostrar um cara legal, de bom papo... Conquistador.
- Onde você estudou, Roberto?
- A minha vida toda estudei num colégio na esquina da minha casa: o Colégio Nova Era.
- Não acredito! Também estudei lá muito tempo! Disse ela com um ar de surpresa.
- Espera aí! Como é o seu nome todo?
- Sofia Boaventura de Menezes.
Meu mundo caiu. Era a Sofia Boaventura de Menezes! A garota irritante que adorava me chamar de apelidos só porque eu fui uma criança, digamos, rechonchudinha. Era ela a responsável pelos meus dias de pesadelo na escola.
- Nossa! Que bacana! Temos de marcar então para nos encontrar fora daqui. Acho que vai ser ótimo relembrar os bons tempos, não é mesmo?
- Não mesmo! Sabe como é: tenho mulher, filhos... Na verdade, uma relação extraconjugal não faz parte da minha religião. E mais: a partir de hoje a senhora por favor só me chame de Sr. Roberto, ok? Vamos manter tudo no campo profissional.
- Mas...
- Aliás, está um calor danado aqui. Vou descer para tomar um refrigerante bem gelado. Light, se quiser saber.
Desci rápido pela escada, com o rosto espantado de Sofia na minha cabeça. Antes de chegar à lanchonete, passei pela farmácia e não tive dúvida: fui direto para a balança.
- Nossa! Preciso emagrecer. Se ainda me chamasse de “bolinha”, ou até mesmo “rolha de poço”. Mas “chupeta de baleia”! Aí já era demais!