Com as unhas ela tentou, como se fosse possível, agarrar-se ao chão frio e gelado da cozinha. Sentia que não seria mais capaz de suportar tamanha dor. A dor que dilacera, a dor que consome, a dor da perda.
Havia perdido de tudo, mas até então mantivera o amor próprio, o respeito próprio. E isso lhe doía mais, afinal, agora se sentia um nada. E o barulho seco do bater da ainda ecoa na cabeça da nossa dama. Ele se fora e junto foram também todos os sonhos pintados com cores fortes durante todos os anos.
Agora o rubor de sua face é esfriado pela gélida lágrima que escorre e toca o lábio ainda vermelho de batom. A lágrima pinga e segue calmamente pelo busto da dama. Arfante, belo e opulento – a prova de que ainda há vidam em meio a tudo aquilo.
Como se clamasse aos céus, nossa dama abre a boca e olha para o teto. Diz palavras inteligíveis, mas que, para ela, são capazes de negar o amor que um dia se orgulhou de ter. Negar o amor que lhe cegou, que lhe marcou. Mesmo amor que hoje a faz cair em pranto e sumir em meio à brancura da cozinha.
Olha para o celular e espera. Não toca, não vibra, não chama. Sem mensagem, sem voz. E assim adormece a nossa dama. Cansada de esperar, cansada de se dar, não vê a luz do sol nascer.
Entregue à solidão, nossa heroína faz dela a sua amiga nas horas vazias da noite. Tem a certeza de que não há mais digno da palavra fiel. E segue sua vida. Pelo menos é o que diz, pelo menos é no que finge acreditar a nossa dama, que um dia foi de ouros e hoje é de paus.
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