2.6.11

Ordinário

Um dia normal. Nada que valha a pena ser colocado aqui, nestas páginas amareladas. Mesmo assim este é o meu diário, tenho que escrever nele todos os dias. “O diário de uma vida ordinária”, é o nome que te darei. Bom, hoje acordei sem motivo e, pra variar, sem compromisso. Meu café da manhã foi o mesmo de sempre: uma xícara de café. Bem amargo. Depois, TV ligada para o nada, cabeça nas nuvens, pensando em algo que nunca fiz, nunca disse. Mas sigo em frente, e a fome não chega. Isso – não ter fome – já não me incomoda mais, sou sincero. Menos um problema, eu diria. Hora do almoço é pretexto para sair de casa então. Ando pelas ruas que parecem não ter nomes, ao menos não as conheço e não me darei o trabalho de assim o fazer. Até porque vou sem destino – que lugar-comum, não? – e paro num boteco sujo – esse lugar comum. Peço uma cerveja e não me importo. O fato de ela não estar gelada não me diz nada, não me faz pedir outra. Não gosto de beber, não gosto de nada que me tire do normal. Não. Mas continuo: o boteco me deixou morgado muito rápido. Paro em frente a uma loja de casacos. Todos muito caros. “Mas quem pagaria por isso?”, pergunto sem resposta. Bom, já ouvi dizer que tem gente para tudo. Pra mim isso é bom, eu penso. Afinal de contas, ainda deve ter uma saída para tudo que desejo, coisas que aqui posso listar, mas me lembro de já ter feito isso outro dia. Às duas horas da tarde – sei porque olhei o relógio da praça – o calor me deixa sem ar e exausto. Paro mais uma vez. Pra ser sincero não me lembro qual lugar, mas que diferença isso faria? Aliás, não sei nem o porquê de ainda escrever estas bobagens neste diário medíocre. Talvez uma forma de ainda me sentir vivo? Não sei. Não sei. Me lembro de que hoje suei como um porco – e porco sua? –, enfim... Já faz duas semanas que uso a mesma camisa branca. Ela agora está aqui, encostada na cadeira ao lado da cama. Noto que ela está meio amarelada, mas tudo bem, não me daria ao trabalho de lavá-la mesmo. Meu Deus! O que estou dizendo? Ah! Me lembrei que hoje fiz uma coisa que há anos não fazia: comprei um ímã de geladeira. Já tenho mais de duzentos, mas achei esse legal porque era bem pequeno e tinha escrito “olha a dieta”. Venho perdendo peso já faz um tempo, mas gostei da ironia. Gosto de fazer isso comigo mesmo. Não tenho razões para me levar a sério. Aprendi isso com o meu pai, mas isso já é outra história. Que mais contar aqui, meu diário? Que monotonia! Já sei! Vou escrever agora mesmo uma carta de suicídio e jogá-la pela janela do meu quarto. Quem irá notar a minha falta? Não! Comum demais! Preciso de algo mais impactante. Preciso fazer algo que as pessoas se lembrem de mim para sempre. Mas o que seria? (...) Bom, meu diário ordinário, vou dormir. Amanhã eu penso nisso.

2 comentários:

  1. Como diz uma colunista que não lembro o nome,rs...com ctz fundamentada no nosso amigo Freud,falar e nesse caso escrever nos ajuda a ressignificar os pensamentos e por conseguinte a forma de vermos as coisas...assim,só o fato de vc ter escrito já te fez ver o se passa na tua janela de forma um pouco diferente e olha q nem falo dessa demorada reforma,construção de nem sei nem o que( vc até já me explicou de que é,rsrs)...

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  2. Ronaldo Guerra11:59 AM

    O ser humano será sempre importante, apesar dos dissabores da vida. Chegará o momento exato da sua realização como resultado do bom uso do seu livre arbítrio e da sua fé. Continue sua caminhada pois o seu "porto seguro" está próximo, bem mais perto do que vc. imagina. Papai

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