Era uma vez uma menina que tinha seus cinco aninhos. Apesar da pouca idade, já era capaz de levar alegria por aonde ia. Todos diziam que era uma bênção viver com aquela menina que com apenas um sorriso revelava uma faísca de paz e amor. Até que um dia a menina, tão linda com aqueles olhinhos verdes, cheios de ingenuidade, não acordou tão sorridente como sempre costumava fazer. Algo de errado havia acontecido, e ninguém conseguia explicar o porquê disso. Nem um sorriso, nem um beijo aos que a cercavam. E assim correu o dia. Já ao meio-dia, a sua beleza já não era mais tão radiante. A menina bem que tentou diversas vezes mudar o andar do dia. Sem sucesso, preferiu calar-se. E assim continuou o dia e nada parecia ser capaz de tirar aquele olhar rumo ao nada da menina. Todos estavam preocupados. Às seis da noite, ao entardecer de mais um dia, todos já sabiam que aquele dia não era como qualquer outro para a menina. Havia algo diferente e sólido – pesado mesmo – no ar. Aos poucos a escuridão foi entrando pela janela da casa, e todos já sentiam um vazio no peito. Era um misto de tristeza com o pressentimento de que algo muito sério estava por acontecer. Foi quando a mãezinha da menina lembrou-se de mostrar a boneca preferida dela: a mais velhinha, a mais simples, a mais amada. Saiu um sorriso de canto de boca e nada mais. A noite se colocou de vez e, com ela, veio uma lágrima que rolou despretensiosamente pelo rostinho angelical da menina. Com as mãozinhas pequenas e frágeis, ela enxugou a lágrima e olhou para todos que, naquele momento, faziam questão de estar ao seu lado. Sem dizer palavra, a menina levantou-se de sua cadeirinha e foi para o quarto. Deitou-se na cama e de lá pôde ver o céu escuro e cheio de estrelinhas. Todas pequenas e brilhantes, assim como ela um dia foi. Esperança olhou para aquela escuridão e fechou os olhos. Todos sabiam que Esperança, uma linda menina, tinha partido. Depois daquele dia, a vida perdeu o sentido para todos. E foi o começo do fim.
30.10.11
27.10.11
Nada
Sabe aquela necessidade de escrever? Ela existe, mas o que não existe mesmo é um tema, algo que façam valer estas palavras, muito menos o seu precioso tempo, amigo leitor. De qualquer forma, deito estes escritos sem um roteiro, até porque, convenhamos, a vida desconhece planos. E isso é uma verdade. Incontestável. Assim como não há dúvidas disso, a sinceridade aqui colocada é algo que, digamos, é o grande ponto deste escrito. Não podemos chamar de crônica, seria demais, quase uma heresia. Mesmo assim, segue a construção desse textículo, sem eira nem beira, em uma fluência que mais parece algo paranormal, sobrenatural. E ainda que não tenha nada a acrescentar a sua digna vivência, caro leitor, ouso a continuar escrevendo. Não me importo com o final, nem mesmo se você até aqui continua comigo. Posso entrar simplesmente em um monólogo, numa completa solidão – não me importo. São palavras jogadas ao vento, sem ter nem por quê. É como se assoprasse, por meio de um sussurro, um segredo ao infinito, uma contribuição ao nada. De nada valem essas letras, esses fonemas, esses pontos e vírgulas, meu caro leitor. É um mero desabafo, um dizer que não tenho nada a dizer, não sou e nem estou. Meus dedos correm pelo teclado, sambam com os símbolos, brincam com a metalinguagem. Se aqui podemos definir algo, seria a metalinguagem, apesar de fazer questão que assim você, amigo leitor, o faça para mim. Evito o desnecessário e, talvez por isso mesmo, que não me calo – até agora. Escrever é dizer e escrever, pensar e viver. Uma tentativa desesperada rumo à eternidade. Não que eu tenha essa pretensão, não teria tamanha presunção. Não me cabe aqui dizer o que é certo ou errado, me abstenho. E faço questão disso: não me sujo com pouco, não me aposto no nada. E do nada é feita essa vida, assim como esse inútil escrito. Num rascunho faço mais uma crônica, talvez a mais vazia de todas. Desprovida de sentido, desprovida de vergonha, como tudo nessa vida deve ser. Você ainda está aqui comigo, caro leitor?