Fazia anos que ele esperava por Ela. Na verdade essa espera começou desde que ele fora visitar uma amiga, quando tinha 14 anos. Sua amiga era jovem, disposta e, como um relâmpago, foi embora. Sem nem mesmo dizer adeus. Ele cresceu ansioso e muitas vezes perdia noites pensando nela, somente nela. Tinha medo, pois não sabia como era seu rosto, muito menos o que ele diria quando o tão esperado encontro acontecesse. É bem verdade que nos momentos de alegria intensa ele não se lembrava dela. Mas bastava um deslize, um acontecimento desagradável – por menor que fosse –, lá estava Ela, em seus pensamentos, muitas vezes se apresentando como uma salvação, uma saída para um túnel que teimava em ser escuro, cada vez mais escuro. Ele se casou, teve filhos, dos mais belos e mais espertos. Foi também avô, cidadão honorário, diretor, presidente e, por fim, aposentado. Algumas vezes ela se apagava de sua mente, era exatamente nessas horas em que ele se achava forte, disposto a vencer os obstáculos da vida. Mas o desânimo foi crescendo à medida que crescia o grau das lentes de seus óculos. Sentia-se fraco, triste e cansado. No dia 14 de novembro deste ano, Ela bateu a sua porta. Ele nada fez. Já esperava por aquela visita. Olhou fundo nos olhos dela, agora mais vivos do que nunca. Foi embora. Sem nem mesmo dizer adeus.
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