15.9.05

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Já faz algum tempo que o papagaio gigante e vermelho voou e nunca mais voltou. Mas faz um tempo maior ainda que as ondas se fecharam como uma bolha prestes a explodir, numa harmonia total entre o universo e o azul do mar. Você nem mesmo soube, e a coisa já rodou, rodopiou e agora parou, como um cachorro sarnento que faz da vida um osso duro de roer. Nem mesmo a sua mãe mordeu a maçã vermelha e deliciosa, e lá estava o telefone a tocar na madrugada errante. E o que é preciso para levar à tona a verdade e mostrar toda a sua insensatez? O que é preciso, menina, para conhecer o mundo como um todo e depois, quando não agüentar mais, descansar sobre uma toalha azul, da cor da sua inocência. Pura. Pura. Muito pura é a tua brancura. Mas preta mesmo é a linha que leva o homem ao abismo e mostra o chão, tão confortável e ao mesmo tempo tão duro. Da mesma dureza da tua pele, do mesmo clamor da tua lágrima, da mesma infinitude da nossa alma leve e desalmada. E o céu? O que ele fez da garça voadora, da menina dos olhos que só é menina por ter olhos? Os mesmos olhos que não enxergam a escuridão, que não mudam o choro constante e desprezível. E assim segue a carruagem de fogo, a abóboda celeste, o claro da noite escura. Nexo. Sem nexo, totalmente desconexo é o nosso beijo. Do que lembra? De onde se criou a raiz e o ovo que rola e chega ao mesmo lugar que nunca quis estar? Me responde a tua consciência, baseada no teu inconsciente. Me diz a tua crença. Para onde foram as casas? E o que fizemos com o fim? Será que tem fim? Não sei e nem quero saber. Não quero saber da água fria que te fez tremer. Não quero saber da insanidade que agora me faz escrever. Atuar como um macaco que se faz por gente. E por isso, somente por isso, ele é gente. Como a gente.

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