A batida da porta do carro foi seca. Seca mesmo já era a palavra. “Chorei tudo que tinha para chorar”, ela disse num tom sem vida. “Não tenho mais o que chorar”, respondeu ele (como de costume) sem olhar. E assim se foram alguns longos anos de companheirismo, cheios de sonhos e desejos. O caminho de casa continua o mesmo, os buracos também são os mesmos, assim como a areia que faz derrapar e pega de surpresa. “Quem diria? Quem eu seria?”, o rapaz perguntava ao ar. Silêncio. Silêncio e nada mais. Nada mais. Ninguém irá entender o valor do adeus. Até porque, para o adeus, não há o que se entender, mas sim aceitar. Resignar. Foi-se o tempo da delicadeza. Foi-se num segundo tudo o que levou anos para ser descoberto. Construído e agora cruelmente destruído. “Drão, não pense na separação. Os erros são todos meus”, martela a música na cabeça dolorida e tensa dele. “Nosso amor tem que morrer pra germinar”, ela deve pensar. Não se sabe. Mas porque saber? São tantas as perguntas, um sentimento de dúvida misturado com dúvida, que deixa um gosto amargo na boca e no coração. “Não conseguimos”, agora ele pensa. “Somos frutos dos nossos destinos, entramos em diferentes caminhos”. E esse silêncio que não quer calar. Esse silêncio que chega a ensurdecer, que fala mais alto do que a vontade de mudar. Só o que resta entre os dois agora é o tempo: um velho amigo dos solitários e o grande vilão dos apaixonados. Na rua é Natal. E as luzes insistem em continuar a brilhar.
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