28.4.11

Coisas Boas em Ter Morado em São Paulo

- Ter aprendido a conviver comigo mesmo

- Ter dividido uma cama gigante com uma mulher linda chamada Solidão

- Pastel de Feira

- Sorvete de Iogurte

- Pizza boa em qualquer lugar

- Ouvir Kiss FM todos os dias (depois de um rock sempre vem outro rock)

- Aprender que acordar com a luz do sol faz sim diferença

- O trânsito é um inferno, mas é culpa sua fazer dele uma vida infernal

- Ter aprendido que 60 km por dia é uma distância que vale para ter uma boa companhia

- Ter conhecido Dayana

- Ter conhecido Juliana

- Ter conhecido Absolut

- Ter conhecido MASP (viver nele)

- Ter vencido momentos que poucas pessoas venceriam

- Saber que a vida é feita de coisas pequenas, elas fazem a diferença

- Ter visitado museus, cinemas e teatros

- Ter aprendido que uma agressão gratuita é algo que tem um valor muito alto

- Entender que uma amizade de verdade sobrevive ao tempo

- Ser conhecido pelo próprio nome na Starbucks

- Ser conhecido pelo próprio nome nas baladas de rock

- Almoçar o mais fino da culinária paulistana e jantar pão com mortadela

- Ter tido a oportunidade de se vangloriar e, mesmo assim, nunca ter feito isso

- Ter mantido o controle emocional (ainda que parecesse impossível)

- Ter entendido o verdadeiro significado de “estar à flor da pele”

- Ter me tornado uma pessoa mais afável e fervorosa

- Ter a certeza de que só ter vontade não é tudo nesta vida

- Aprender que a gentileza pode acalentar corações frios (e até mesmo gélidos)

- Entender que sucesso mesmo é estar feliz

- E, por tudo isso e muito mais, descobrir que amor e paz são tudo nesta vida

13.4.11

Ser e Estar

Eu quero tudo, quero mais amor

De frio eu prefiro o calor

Eu quero voltar, quero mais luar

De grandeza eu prefiro o mar


Eu quero continuar de onde parei

Quero ir além, diz que voltei

Sou menino, garoto, pequeno

Quero o bem, diz que desafio e não temo


Ser e estar, querer e mudar

A vida segue, vai ela sem parar

Lá fica o que é meu, solto pelo ar

Cá estou eu, de volta pro meu lar

20.2.11

These, This and That

Who’s gonna stop my shotgun

Who’s gonna stand my sun

I’m a fortunate son, I’m a hurricane tongue.


I’m invincible like a hammer

Unconquerable such a fighter

I haven’t made that, I’m not a part of tags


Yes I was born to be bad

I’m used to be sad, said my mom and dad

No I am not what you really need

I’m just the monster you feed


Don’t care about you, Well I don’t even listen to

So take up your fears and move up and around

Yeah, It’s time to you hit the ground,

That’s for me is a sweet sound


I got my shotgun, I got my head in the clouds

I got my own sun, I got you naive clown

I got these, this and that, baby you act like an ass

28.11.10

PRINCESINHA DANADA

Eu te falei

Que a vida não é tão fácil assim

Que todo amor um dia tem fim

Eu sempre quis você pra mim


Eu te contei

Que as dores no meu coração

São todas suas e não tem perdão

Agora sou eu que digo não


(Refrão)

Princesinha danada

Você que um dia foi minha amada

Agora não adianta, é folha virada

Eu fiz de tudo e não deu em nada


Eu te avisei

Você sabe que um dia eu te amei

Jogou fora o amor que eu te dei

Agora sou eu que digo não sei


Eu fui seu rei

Construí um castelo de amor

Pena que tudo isso acabou

Tchau, até mais, menina, eu já vou


Refrão (150 vezes)

19.11.10

E Se?

E se tudo não passasse de um sonho?

Se tudo foi parte de uma noite apenas

Quando as lembranças se misturam em várias cenas

Do amor à indiferença, e de tudo que é ruim e o que é bom


E se tudo não passasse de uma confusão?

Que toma a alma e enche de amargura a razão

Ainda que fosse um caminho de alegria

Uma vida que pensamos que tudo um dia seria


E se tudo fosse por mero acaso?

Capricho do destino, sutil favor da vida

Fortaleza de amor verdadeiro, entre idas e vindas

Quando tudo que precisássemos fosse somente mais um passo


E se tudo tivesse um caminho de volta?

Um caminho que nos trouxesse o amor por inteiro

O amor de sempre e que se cumpre como real e verdadeiro

E que dentro do peito insistentemente brota

4.4.10

Nós

Enquanto você brinca de viver, eu vivo.
Enquanto você finge ser feliz, eu sorrio.
Você é pedra, eu, vidro.
Você é dura, eu duro.
Você acha, eu acerto.
Você faz arte, eu sou arte.

Enquanto você com pouco se encanta, eu me completo.
Enquanto você com tudo se contenta, eu me invento.
Você quase, eu já.
Você sempre, eu nunca.
Você é tudo, eu, brando.
Você é frio, eu ardo.

Enquanto você sempre diz por favor, eu esqueço o obrigado.
Enquanto você se faz de vítima, eu não me faço de rogado.
Você precisa de dois, eu sou um.
Você vive o agora, eu faço a hora.
Você tinto, eu branco.
Você pensa, eu faço.

Menina-mulher, assim é você.
Homem-menino, assim sou eu.
Opostos nós somos, compostos nos tornamos.

3.4.10

Who or When or What (B. Guerra)

Who am I to carry these loving fears
And who was I when I use to dry my tears
What will I do now that I can’t cry
What will I do when I feel so shy

Who’s gonna pull the trigger
Who’s gonna call me by stranger
Baby, It’s all on my mind
Honey, I just can’t deny

(Chorus)
Thanks for make me crawl
Thanks for let me down
Thanks for make me fall
Thanks for nothing at all


Where should you be in my lies
Where will you be when I leave you behind
So please now bring me the mirror
Show my scar face while I sink in the black river

16.3.10

It's All Done (B. Guerra)

I’ve walked alone
I’ve had friends once
Now It’s all gone
Just need to rest in peace

I’ve just arrived from nowhere
I’m right here with my shadow
Now that It seems to be done
Just need to relax and sleep

I’ve carried the world on my shoulders
I’ve drawn the line on the horizon
Now that life seems softer
Just need to lay down and down

I’ve worked hard yesterday
I’ve been young for a while
Now that my face isn’t the same
Just need to RIP and fly away

(Chorus)
I’ve been around
I’ve slept on the ground
Now that I’m old, It’s gone
Now that I’m sold, It’s gone
It’s gone, It’s all done

18.12.09

Rosie

You were born to die
Your life’s a great lie
Wait ‘til I get home today
I’ll help you find another way

You’re just a kind girl
Even when you lose your nerve
So bring the rainbow with you
And keep the beauty into you

(Chorus)
Rosie, your pride, what have you done?
Rosie, tell me why, where have you gone?
Rosie, It’s all up to you
Rosie, so long for you

So now that the sun went back
So now that the bad taste’s back
Take a look, here’s your change
Money doesn’t seem so strange

Well I’m not worry to say sorry
Now It’s you and what army?
Goodbye, you softly lies now
Goodbye, your breath doesn’t sound

You’re all alone, it’s not wrong
You’re all alone, here’s your sad song

Everyday Man

Walking through the past
It’s always simple and fast
The shadows don’t smile
Anymore

Things that whisper things
And bliss that moves the leaves
They always look the same
Anyway

And comes and goes a day
Feeds my simple way
I always feel the same
I don’t care

Well I’m just another guy
Not requested life
Things don’t seem to rhyme
I don’t mind

(Chorus)
Forever and ever
Over and over
Again and again
Anything, Anyway
Anyone, Anyplace

7.12.09

NUMSEGUNDO

tudonumsegundocomosefosseoúltimosemarsemparsemnadasóvocêsósóesóchegaahoradeacertarascontasaluzdosolcegaosolhosassimcomofazadorreluzirsobreapelequeserasgacomopapeledelasurgeovermelhovivoquesujaotecidoantesbrancoepensoemmomentosqueficamnanoiteacordadonobanhodemarnasensaçãodeliberdadenoventoaorostonamúsicapreferidanacomidaquefazsalivarnoprazerdevinteminutosnocolchãomacionosonoperdidonadorderirenaverdadederirdadortudopassasempararpelacabeçatudocomprimidopelaurgênciadoagoranafaltadepiedadedeseirmuitocedorumoaseiláoquêsemsaberseirávoltarnumconfusãonacabeçaenochacoalharentreareiaegalhosnorugirdosmetaisedosgritossilenciadospelomedotudoparecefácilpartidoemalentendidotodosetudosevainumgestodeamordesustodepenajesuspassarápidoúnicoapoionomomentosoltoaodestinosemdestinosemnoçãotudosefeznuminstantenumamostradequeotempopassamasaalmaficaassimcomoacertezadequepodeterofimcheg.... ..... ...... .. .. . . . __

14.10.09

Amor, Demasiado Amor

Mal podia esperar para vê-la de novo. Bater à porta e mergulhar naqueles olhos azuis que sempre o fascinou. O problema é que o sol ainda nem tinha nascido, e ele continua em claro. A noite, assim como tantas outras, transborda em sonhos e se mistura à música infame que a rádio toca no seu quarto. Ele se levanta, vai até a cozinha e, num lance de espelhos, vê suas costas desnudas. Não vê nada, mas a sensação de ter alguém atrás é real. Toma um copo d’água e pensa que essas sensações devem ser frutos da sua solidão. No reflexo do armário da cozinha, ele vê seu rosto marcado por olheiras e barba por fazer. Havia assumido essa cara-de-quem-não-quer-viver desde que ela viajou. Não fazia tanto tempo assim. Foi num domingo acalorado, disso ele se lembra muito bem. Mas o tempo não importa para quem desistiu de viver e prefere morrer de amor. Ainda na cozinha, puxa a cadeira de madeira e faz do desconforto o seu companheiro para o resto da noite. Os primeiros raios solares surgem pela fresta da janela e começa a esquentar levemente a face do homem, há pouco adormecido. Ele então abre os olhos lentamente e sente uma espécie de alívio. Havia chegado a hora. Pega o celular e com os restos dos créditos diz a ela: “amor, estou indo para aí. Me espera?”. A mulher diz que sim e completa: “não demora.”. Ele abre a boca e quando vai falar, ouve o sinal de desligado do outro lado da linha. No caminho, o homem olha pela janela do ônibus e depois para seu relógio, que continua a contar. Quando desce do ônibus seu coração bate ainda mais forte. Bate à porta da mulher com força, como se dissesse “estou aqui. Estou de volta.”. Lá de dentro vem uma voz que diz para esperar, pois, explica, estava acabando de se arrumar. Ele imagina aquele corpo nu que tantas vezes o levou ao ápice, à falta de ar num êxtase total. Por instinto fica excitado com o mistério. Como ela, a sua amada, estaria quando a porta abrir? A fechadura range, e os olhos dele se encontram com os dela. “Era tudo o que queria”, ele pensa que ela deve pensar. É quando ela diz “não vai entrar?”. Num golpe rápido a faca corre pela garganta da mulher cujas pupilas agora estão abertas, escancaradas. O sangue explode e mancha de vermelho escuro a parede. A porta bate. Lá fora, o sol continua a nascer.

12.10.09

A Vizinha

A vizinha ao lado é uma daquelas mulheres que não passam pela rua sem chamar atenção. Corpo escultural, que por debaixo da roupa (sempre preta), mal escondidas ficavam curvas delineadas e altamente sensuais. Posso dizer que tive sorte. Até porque não é sempre que uma vizinha surge do nada, bem no meio de um domingo sem graça, dia em que a vi pela primeira vez. Naquele momento, dei um sorriso desengonçado, e ela me respondeu com outro ainda mais tímido. Foi o início do surgimento de várias perguntas em minha antes tão pacata mente. Será que ela é boa de papo? Posso até um dia bater na porta dela e perguntar qualquer bobagem - isso se a minha já falada timidez permitisse, é claro. A minha adorável vizinha! O que será que ela faz? Quem afinal de contas é ela? Sinceramente não sei e nem tinha espírito de detetive o suficiente para descobrir mais detalhes da sua vida, tão marcada por um grande e desafiante ponto de interrogação. Da ponta da minha varanda dava pra ver que raras eram as vezes em as luzes do apartamento dela se acendiam. O preto era tão presente na vida da minha vizinha que isso só fazia aumentar a minha faminta curiosidade. Num raro dia de descuido e sorte, lembro-me bem, encontrei a minha vizinha de camisola preta, transparente, na varanda. “Mas o que faz uma pessoa ter tanta fissuração pela cor da solidão?”, pensava eu. Um dia tive a coragem de dar uma rápida olhada no lixo daquela mulher que, àquela altura, já povoava todos os meus sonhos (e pesadelos). O mistério é um ótimo tempero para os amantes. Pizza e (vários) cigarros de maconha foi o que encontrei ali. Não reconheci a maconha de primeira, mas me lembrei do meu primo, que no telhado da casa de praia da nossa família, não cansava de me oferecer o tal barato. Mas voltando... “O que faz uma mulher tão linda, amiga inseparável do escuro, viver de pizza e de maconha?”. Eram tantas perguntas que às vezes me faziam ter um ímpeto, ainda que passageiro, de bater a sua porta e dizer “que tal conversarmos?”. Nunca fiz isso, como você já pode prever. Sou previsível mesmo, confesso. Tinha de me contentar com as perguntas e todas as milhares de respostas que a minha criatividade produzia. Mas como tudo na vida tem um desfecho, eis o meu e o da minha adorável vizinha. Era o primeiro dia de inverno e eu cheguei do trabalho mais tarde do que costumava. Estava frio. Vi luzes brilharem já na portaria do meu prédio. Quando cheguei mais próximo percebi que eram sirenes. No chão, uma rachadura profunda por onde escoava um sangue vermelho flamejante. O porteiro não se fez de rogado e disse logo para mim: “sabe o que aconteceu?”. “Não”, disse eu. “A sua vizinha. Já foi! Pulou lá de cima e eu, daqui de baixo, só pude ouvir a batida seca.”. Tive uma tontura e subi rápido para o meu apartamento. Passei pela porta da minha vizinha, que pela primeira vez estava escancarada e lá de dentro dava para ver os uniformes dos policiais. Vinte minutos depois, minha campanhia toca. Um policial pergunta: “o senhor a conhecia?”. Olhei no fundo dos olhos do homem e disse que não. Completei: “tudo o que sei é que parecia ser uma pessoa maravilhosa.”. A minha vizinha morreu da mesma forma que a conheci: num piscar de olhos, na duração de um sorriso tímido. Já eu, bom, eu tinha o resto da vida para imaginar quem realmente ela era. A timidez, como sempre na minha vida, venceu.

29.8.09

Verdade, de Fato.

Eu não devia ter dito o que disse. Eu não devia ter dito isso ou aquilo. Eu simplesmente não devia ter dito. Agora que o sol volta a brilhar e o meu coração já não bate acelerado, vejo que é outro dia. Tão mesmo, tão igual. Passou. Juro que passou. Não volta mais. Sem mais nem menos, as coisas se perderam ao vento. E com elas se foram os extremos, os exageros de algo que (se existiu) assinou o seu final. E, desculpe, não faz mal. Juro que não faz. Já há algum tempo cresci. Foi-se a ingenuidade, a necessidade de se ter sonhos pueris. Com eles foram todos os encontros e os desencontros, os sabores e os dissabores de uma vida cheia de leveza, filha da nobreza de um coração juvenil. A maturidade chega e não deixa rastro. Isso é verdade, de fato. Confesso que fiz o meu melhor e, dele, surgiu o lado obscuro, a farsa de quem beija a face. Bem que se diz o bem que te fiz. Passou. Estou melhor, prometo. Então vamos deixar tudo em branco e preto. Adeus às cores de um tempo em que se passava numa vã filosofia, fruto de uma intelectualidade falsa e forçada. Enfim, chegamos ao fim. Eu que não devia ter dito o que disse. Eu que não devia ter dito que te amo.

6.6.09

Lumina III

Pensando nas Nuvens, a caminho do Redentor:

"A fila é o espelho do nosso país. Todo mundo reclama mas ninguém age"

"Nossa vida é como as notícias de elevador. Destaques apesar de superficiais"

"Cuidado com o sorriso frio. Com ele, você pode se queimar"

"O segredo é parecer genial. Mesmo quando não se é gênio"

"Engana-se quem compara o amor ao açúcar. Ele está mais para o café: um amargor que faz acordar"

23.12.08

Crônica do Adeus

A batida da porta do carro foi seca. Seca mesmo já era a palavra. “Chorei tudo que tinha para chorar”, ela disse num tom sem vida. “Não tenho mais o que chorar”, respondeu ele (como de costume) sem olhar. E assim se foram alguns longos anos de companheirismo, cheios de sonhos e desejos. O caminho de casa continua o mesmo, os buracos também são os mesmos, assim como a areia que faz derrapar e pega de surpresa. “Quem diria? Quem eu seria?”, o rapaz perguntava ao ar. Silêncio. Silêncio e nada mais. Nada mais. Ninguém irá entender o valor do adeus. Até porque, para o adeus, não há o que se entender, mas sim aceitar. Resignar. Foi-se o tempo da delicadeza. Foi-se num segundo tudo o que levou anos para ser descoberto. Construído e agora cruelmente destruído. “Drão, não pense na separação. Os erros são todos meus”, martela a música na cabeça dolorida e tensa dele. “Nosso amor tem que morrer pra germinar”, ela deve pensar. Não se sabe. Mas porque saber? São tantas as perguntas, um sentimento de dúvida misturado com dúvida, que deixa um gosto amargo na boca e no coração. “Não conseguimos”, agora ele pensa. “Somos frutos dos nossos destinos, entramos em diferentes caminhos”. E esse silêncio que não quer calar. Esse silêncio que chega a ensurdecer, que fala mais alto do que a vontade de mudar. Só o que resta entre os dois agora é o tempo: um velho amigo dos solitários e o grande vilão dos apaixonados. Na rua é Natal. E as luzes insistem em continuar a brilhar.

12.10.08

Contato

Olho no olho. Ele nota e logo faz cara de “estou aqui. Que tal?”. Ela cruza as pernas que mal cabem na mini-saia. Ele olha, olha... e aí olha pro teto. Depois dá uma tossida fraca, acompanhada por um pigarro. Presença marcada. Agora ela cruza as mãos, mostrando todos os anéis e as unhas bem feitas. Rosas. Femininas. Ele olha e dá um leve suspiro. Contato. O tempo passa. Ela olha para fora do saguão e pega o celular. Fala rápido, dá um tchau meio sem graça, meio sem ter nem porquê. Não se esquece de falar a palavra irmão. Chega a vez de ele cruzar as pernas. Agora, elas apontam para ela. Bom sinal. Contato. Sinais. Um terceiro corre e passa pela frente dos dois, que aproveitam e se olham mais uma vez. Olho no olho. Contato. Mas não basta só olhar, ele dá um sorriso de canto de boca. Ela devolve com um sorriso meio sem graça. Contato. Ele segue em frente e olha atentamente para os lábios dela. Ela nota, mas finge que não percebe. Desejo. Contato. Imediatamente abre a bolsa e tira uma bolsinha. Maquiagem. Passa o batom lentamente. Olha no espelho e pelo reflexo olha mais uma vez para ele. Uma piscadela rápida. Contato. Ele olha atentamente. Não iria deixar passar batido esse momento, é claro. Mais um sorriso. Dessa vez ela mostra os dentes brancos, emoldurados pelo batom vermelho. Desejo. Duas vezes desejo. Mais uma vez: contato. Ele levanta os braços e, meio que abraçando o ar, muda de posição na cadeira. Cotovelo com cotovelo. Contato. Arriscado, ele sabe, mas é assim mesmo. Até porque o tempo continua passando. Quer arriscar mais: prepara discurso na cabeça. Tem de ser sedutor sem, ao mesmo tempo, parecer meloso. Tem de ser inédito. Tem de ser criativo, digamos assim. Toma coragem, toma fôlego. Vai falar. “Senhores passageiros, última chamada para Santarém. Portão H.”. Ele olha pra ela como quem diz aliviado: “Não vou pra Santarém”. Ela pega as malas e se levanta rápido. Ele apenas acompanha. Olho no olho. Contato. Último contato.

29.6.08

P.S.C

Isso aqui é pra hoje. Hoje. Não tá entendendo? Bom, vamos lá... Eu quero isso nas minhas mãos ainda hoje, certo? Como assim não é possível? Não quero saber de prazo, meu amigo. Isso tem que ser feito e ponto! Acabou! Não, nada de “mas”. Chega de “mas”. Olha não tenho nada a ver com a sua vida. Se sua mãe está doente, isso é um problema seu. Aliás, o seu problema é seu. Entendeu? Escuta, você sabe o que significa a palavra “urgente”? Pois não parece! Muito me admira... Logo você... Eu sei, rapaz, mas o que é que eu estou lhe dizendo? Não tem essa de “prazo viável”. Meu dead line com você é hoje. Hoje, não! Agora! Tá bom, tá bom... Então daqui a cinco minutos e não se fala mais nisso, ok? Como assim “é pouco”? Deus criou o mundo em sete dias e você não pode criar isso em dois minutos? Já disse! Quero isso o quanto antes. Vou repetir: o quanto antes, hoje, agora! Rapaz, isso é urgente. Quer saber mais o quê? Pronto, agora você quer que eu lhe diga todos os passos. Assim eu mesmo faria! Sim... Sim... Sei... Sei... Isso... Certo... Beleza... Show de bola... Entendo, meu querido. Mas é você quem não está me entendendo: isso é pra agora! A-go-ra! É simples! Você pega a pesquisa... Olha só. Lá vai eu explicar de novo como você deve fazer. Não vou fazer isso não. Afinal de contas, eu estou aqui é pra lhe ensinar. É ou não é? Pois então? Não sei... Não sei... Quem deve me dizer isso é você. Como assim três dias? Três minutos e não se fala mais nisso! Olha só o tempo que você está perdendo aqui, rapaz! Já dava pra ter feito! Tenho uma reunião daqui a cinco minutos. Pensando bem... Seria ótimo já levar isso pronto, não é mesmo? Vamos lá... Haja paciência! Recapitulando: isso é para agora. Ou melhor, isso aqui é para ontem!